Neste fim de semana, acontecerá a cerimônia oficial da Classe de 2019 do Hall da Fama do futebol americano profissional. Mais oito membros receberão a jaqueta dourada e o busto em Canton e ficarão para sempre marcados na história da NFL.
Em 2019, os “imortalizados” são: Champ Bailey, Pat Bowlen, Gil Brandt, Tony Gonzalez, Ty Law, Kevin Mawae, Ed Reed e Johnny Robinson, sendo os nomes em itálico correspondentes aqueles no primeiro ano de eligibilidade.
Assim sendo, destaquei cada um deles abaixo ilustrando a contribuição e influência de todos eles para a liga. Entenda por que eles se tornaram hall of famers.
Champ Bailey
Champ Bailey foi o melhor cornerback de sua geração. Não apenas pela capacidade de interceptar passes (e poucas vezes desperdiçar oportunidades nessas situações), Bailey marcou época por ser um dos principais shutdown corners da liga depois de ter sido recrutado pelo Washington Redskins (1999-2003) e também defender as cores do Denver Broncos (2004-2013).
Pouquíssimos defensive backs conseguiam ler jogadas como Bailey.
Consequentemente, ele foi eleito ao Hall da Fama em seu primeiro ano de elegibilidade e se aposentou com 12 Pro Bowls na carreira, um recorde entre CBs e que o coloca em um seleto grupo de DBs com pelo menos 10 indicações ao Pro Bowl, ao lado de Ken Hutson, Rod Woodson, Ronnie Lott e Mel Renfro.
Diga-se de passagem, todos os outros também estão em Canton.
Bailey se tornou o primeiro jogador do Draft 1999 a chegar ao Hall da Fama. Agora, o recrutamento de 1992 é o único desde 1936 (não incluindo anos desde 2000, logicamente) a não ter nenhum nome em Canton.
Uma estatística para saber: As 52 interceptações de Bailey ao pendurar as chuteiras lideraram a NFL no período entre 1999 e 2013. Melhor ainda, os 203 passes defendidos pelo cornerback ao longo da carreira continuam como a melhor marca da história da liga.
O melhor lance da carreira
Entre várias jogadas ridículas (como diria Everaldo Marques), interceptar um dos melhores quarterbacks de todos os tempos e retornar o campo inteiro até outra end zone, em um jogo de playoffs, foi o ponto máximo de Bailey..
Tony Gonzalez
É difícil argumentar contra Tony Gonzalez ser o melhor tight end da história da NFL. Em uma carreira quase impecável entre 1997 e 2013, com passagem por Kansas City Chiefs (1997-2008) e Atlanta Falcons (2009-2013), Gonzalez se aposentou liderando liga em recepções, jardas recebidas e touchdowns entre tight ends. Marcas que, aliás, não devem ser ameaçadas em um futuro próximo.
Os 1.325 passes recebidos pelo TE configuram ainda a segunda maior marca da história, atrás apenas de Jerry Rice. E os 14 Pro Bowls também são um recorde da NFL, ao lado de outros nomes.
A carreira de Gonzalez só não foi perfeita, digo com todas os feitos possíveis alcançados, pois ele nunca conquistou o Super Bowl. Contudo, muito disso aconteceu porque ele, na maioria da carreira, esteve em equipes abaixo da média.
Ainda assim, o impacto do tight end, bem como a regularidade e consistência dentro de campo, colocam-no como um dos maiores da história do esporte. Tenha em mente que o recebedor jogou basquete, em alto nível, na universidade, fato que o ajudou a atrapalhar os adversários.
Nada mais justo, então, de Gonzalez ter sido o primeiro tight end da história a entrar para o Hall da Fama no primeiro ano de elegibilidade.
Uma estatística para saber: em 17 temporadas profissionais, Gonzalez ficou fora de apenas duas partidas.
O melhor lance da carreira
Difícil, mas por que não escolher um lance que mostrava a versatilidade e impacto de Gonzalez dentro de campo? Em 2011, contra o Philadelphia Eagles, o camisa #88 anotou um touchdown em magnífica recepção com apenas uma das mãos, e incrível trabalho dos pés na jogada.
Ty Law
A carreia de Ty Law foi extremamente sólida. Embora essa nem sempre apareça nas listas dos cornerbacks mais impecáveis de todos os tempos, o que faz de Law realmente especial — e o concretiza como hall of famer — foram os momentos decisivos.
O principal deles? Provavelmente a atuação contra o Indianapolis Colts na final de conferência de 2003, quando Law interceptou Peyton Manning três vezes.
Ou melhor, como não lembrar também da performance de Law no Super Bowl XXXVI entre New England Patriots e St. Louis Rams? Na ocasião, o defensive back anotou os primeiros pontos dos Patriots com uma pick six (ver mais abaixo). Aquela seria o primeiro anél conquistado pela era Bill Belichick-Tom Brady.
Não deixe de lado, claro, os cinco Pro Bowls e as duas temporadas em que Law liderou a NFL em interceptações (1998 e 2005).
Além de atuar pelos Patriots (1995-2004), time pelo qual começou a carreira, o defensor vestiu as cores do New York Jets em duas curtas passagens (2005 e 2008), além de rápidas aparições por Kansas City Chiefs (2006-2007) e Denver Broncos (2009).
Uma estatística para saber: a rivalidade Brady-Manning dominou a NFL por muitos anos. Mas não é um absurdo dizer que Brady não era quem mais incomodava Manning em confrontos entre Patriots e Indianapolis Colts entre 1998 e 2004. Afinal, Law acumulou nove interceptações na carreira contra o camisa #18 (incluindo playoffs), a maior marca contra o ex-QB na carreira.
P. S Um dos terceiros colocados nesta lista, com quatro INTs contra Manning, vem logo abaixo neste texto.
O melhor lance da carreira
Este foi fácil: Law brilhou no SB XXXVI e anotou um dos TDs de New England no confronto. Veja os highlights do ex-camisa #24 naquela decisão.
Ed Reed
Ed Reed para muitos foi um safety perfeito. Rápido, habilidoso, técnico, atlético, instintivo e inteligente, ele ameaçava os adversários de diversas maneiras.
Em uma carreira que durou 12 temporadas, 11 delas pelo Baltimore Ravens (2002-2012) e outra (2013) com participação em duas franquias, Houston Texans e Jets, Reed foi por muitos o melhor safety da liga. Mais que isso, a capacidade de interceptar — e retornar — passes do defensor fizeram dele um “shutdown safety” em certas ocasiões.
Ao todo, foram 64 passes interceptados, com sete deles retornados para touchdown. E dois desses acabaram sendo de 106 e 107 jardas, em 2004 e 2008, respectivamente, por fato os dois mais longos já vistos até hoje na NFL.
No currículo de Reed ainda constam nove Pro Bowls, um Super Bowl conquistado e um prêmio de Jogador Defensivo do Ano (2004).
Uma estatística para saber: Reed acumulou 1.590 jardas em retornos de interceptações, de longe a maior marca da história. Além disso, as nove INTs do defensive back em pós-temporada também configuram um recorde, ao lado de outros nomes.
O melhor lance da carreira:
O retorno de interceptação mais longo da história da NFL, 107 jardas.
Kevin Mawae
A posição de center possivelmente não será representada tão bem por algum jogador quanto essa foi por Kevin Mawae, que jogou no Seattle Seahawks (1994-1997), Jets (1998-2005) e Tennessee Titans (2006-2009).
Segurança, liderança, consistência e inteligência, todas essas eram características predominantes em Mawae, e fizeram com que ele fosse ao Pro Bowl oito vezes e disputasse 241 jogos na carreira, sendo 238 como titular e 117 de forma consecutiva.
A demora para a “imortalização” do ex-offensive lineman é algo natural, vale ressaltar. A competição enfrentada por ele nas últimas classes fez as coisas ainda mais complicadas, e homens de linha ofensiva costumam demorar mais em relação à outras posições.
Uma estatística para saber: estatísticas ligadas à linha ofensiva no futebol americano são complexas. Contudo, linhas ofensivas comandadas por Mawae tiveram um running back com 1.000/+ jardas terrestres em 13 das 16 temporadas disputadas por ele.
O melhor lance da carreira
Pela posição que atuava, Mawae não teve brilhantes jogadas individuais como alguns dos outros jogadores deste texto. Todaiva, ele protagonizou em 2004 algo que merece ser lembrado: após quebrar a mão direita (a que ele usava em seus snaps), o bloqueador aprendeu a executar snaps como canhoto para não perder partidas e assim jogou por seis semanas (foto abaixo). Leia mais sobre isso aqui (em inglês).

Johnny Robinson
Johnny Robinson atuou em uma época em que os ataques aéreos ainda não eram tão apurados e era normal que as defesas conseguissem mais interceptações do que atualmente. Mais que isso, Robinson foi um dos defensive backs responsáveis por forçar vários turnovers no passado.
Quando pendurou as chuteiras, ele tinha liderado a liga duas vezes em INTs. Em 1966, Robinson dominou a AFL com 10 lançamentos interceptados. Quatro anos mais tarde, já na estabelecida NFL, o safety também foi o nº 1, com mais 10.
O ex-camisa #42, que defendeu somente o Dallas Texans/Kansas City Chiefs (1960-1971) na carreira, aposentou-se com 57 interceptações e sete Pro Bowls. Ademais, nas duas primeiras temporadas profissionais, Robinson atuou como corredor, somando seis touchdowns.
Tudo isso ajudou os Texans/Chiefs a conquistarem quatro títulos, um deles já na era Super Bowl (SBIV).
É impossível escrever sobre os melhores da todos os tempos nos Chiefs sem incluir Robinson. Agora, o mesmo também não pode ser feito quando narrada a história da NFL, merecidamente.
Uma estatística para saber: Robinson é um dos somente nove jogadores na história da NFL a totalizar pelo menos cinco interceptações em seis temporadas consecutivas. Ele fez isso entre 1965 e 1970.
O melhor lance da carreira
Vamos usar o plural neste caso. Abaixo, os melhores lances da carreira de Robinson:
Pat Bowlen
De 1960 a 1983, o Denver Broncos foi aos playoffs cinco vezes, com uma aparição em Super Bowl. Entre 1984 e 2019, período com Pat Bowlen como proprietário principal, esses números subiram, respectivamente, para 18 e sete, com três títulos conquistados.
Bowlen foi o homem por trás de construir os elencos competitivos para John Elway, tanto como jogador quanto como general manager.
Sob os 35 anos de liderança de Bowlen, os Broncos ainda se tornaram o único time da NFL a totalizar 90/+ triunfos em cada uma das últimas três décadas.
Uma estatística para saber: em todas as temporadas disputadas com Bowlen como proprietário (1984-2018), os Broncos tiveram o mesmo número de Super Bowls (sete) e temporadas com mais derrotas do que vitórias.
O melhor lance da carreira
Bowlen não foi jogador, então o melhor momento para ele neste caso vem do Super Bowl 50, o último conquistado pelos Broncos, quando John Elway o homenageou na cerimônia final, retruindo algo que o ex-proprietário havia feito no final dos anos 90.
Gil Brandt
Aquele time do Dallas Cowboys de 1966 a 1983, que venceu dois campeonatos e acabou como um dos mais dominantes de todos os tempos, teve o dedo de Gil Brandt.
Ele era o principal responsável pela avaliação de talentos do elenco e, em seu período com os Cowboys (1960-1988), Brandt ajudou a moldar, além dos títulos, uma franquia que se tornaria referência nos Estados Unidos após somar 20 temporadas seguidas com mais vitórias do que derrotas.
Cirúrgico quando o assunto era adquirir reforços para o plantel na offseason, Brandt foi o responsável por descobrir excelente free agents, como Drew Pearson, Everson Walls e Cliff Harris, por exemplo.
Uma estatística para saber: no período em que Brandt esteve no por trás das câmeras em Dallas, a equipe totalizou pelo menos 10 vitórias em 16 temporadas.
O melhor lance da carreira
Em campo, Brandt nunca fez nada. Por outro lado, ele escolhia, detalhadamente, quem seriam os nomes com a oportunidade de executar grandes jogadas dentro das quatro linhas.
E engana-se quem pensa que ele não deixou um grande legado para a NFL. O ex-Cowboys foi responsável por revolucionar a forma como as franquias avaliam talentos atualmente. Como? Bom… Uma das inovações foi começar a usar computadores para o Draft, com todos os dados e informações. Entenda mais sobre isso aqui (em inglês, para assinantes).