Nas últimas décadas, o futebol americano profissional teve um crescimento absurdo nos Estados Unidos (e em em vários outros países também) e ultrapassou o beisebol para se tornar o esporte preferido dos americanos. Desde então, milhões de pessoas param todos os finais de semana para acompanhar o football. E tal costume foi ganhando cada vez mais força, estabelecendo inúmeros recordes televisivos nas transmissões da NFL.
Como resultado disso, para o jogo em si, a liga viu mais investidores, patrocínios e espetacularização, fatores que resultaram diretamente para as franquias da National Football League, despertando assim o interesse de novos proprietários, mudanças de cidades, internacionalização das equipes e alguns outros fatores.
Todavia, antes de seguir com este raciocínio e abordar um novo obstáculo encontrado pela liga, lembre-se que há alguns anos, quando os ataques aéreos não predominavam na NFL, mas sim o jogo corrido, eventuais lançamentos e as defesas agressivas, a liga percebeu que um placar de 35-32 seria bem mais interessante e atrativo do que um 17-13, por exemplo. A partir disso, então, ela fez determinados ajustes nas regras, mudou a ideologia e a forma de pensar dos treinadores em campo, e o resultado foi o jogo empolgante que conhecemos hoje, com grandes ataques aéreos e que parecem melhorar a cada rodada. Saiba ainda que essa alterações foram cruciais para o estouro do Fantasy Football.
Dito isso, vamos ao que interessa: após sete semanas da temporada regular em 2016, semanalmente as manchetes nos Estados Unidos têm estampado o fato dos índices de televisão dos jogos da NFL estarem caindo consideravelmente. Na semana 7, quinta-feira a noite, na partida entre Packers e Bears, os índices registraram uma queda de 18,2% em relação ao Thursday Night Football da mesma rodada no passado, entre 49ers e Cardinals. Já no domingo a noite, no empate entre Cardinals e Seahawks (6-6), esses números caíram 15% se comparados ao Sunday Night Football da sétima rodada de 2015, disputado por Panthers e Eagles.
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Indo para o fim da tarde de domingo, no duelo entre Steelers e Patriots, o qual fora bem superior tecnicamente falando do que os outros jogos citados acima, os índices mostraram que seus valores diminuíram 13,2% tendo como base a partida dos Cowboys contra os Giants na semana 7 do ano passado. De modo geral, as principais emissoras dos EUA (Fox, CBS, NBC, ESPN) viram seus índices combinarem em uma queda de quase 13% desde o começo desta temporada.
Mas por que isso está acontecendo?
É difícil concretizar um único fato que justifica e explicar o porquê o número de pessoas que assiste à NFL tem diminuído. Contudo, será que é mesmo apenas um fator que influencia neste caso? E se for uma combinação de questões que podem estar colocando a popularidade da liga em xeque neste ano? Com isso em mente, vários sites de futebol americano nos Estados Unidos fizeram enquetes e análises sobre os possíveis fatores dessas baixas. Abaixo, veja algumas desas alternativas mais prováveis e nossos comentários sobre elas.
Por mais estranho que pareça, os protestos durante o hino nacional americano podem (e devem) estar influenciando
Recentemente a NFL viu surgir alguns escândalos ao longo dos anos (Patriots e Saints sabem bem disso). Escândalos esses que aumentaram a audiência das partidas da liga em larga escala. Talvez por isso seja difícil entender que os protestos começados na pré-temporada deste ano tenham impacto direto na popularidade do campeonato. Mas acredite, as manifestações encabeçadas por Colin Kaepernick defendendo os direitos civis e raciais, ao que tudo indica, é um dos principais fatores para as baixas nos índices televisivos. Nas enquetes feitas em diversos estados norte-americanos, em várias ocasiões, os protestos receberam a maioria dos votos neste debate.
O argumento aqui se baseia no seguinte fato: os atletas da NFL recebem para entreter aqueles meros apaixonados por futebol americano, e não para expor suas visões políticas a eles. Sim, pode parecer exagero, mas se tratando de divergências políticas, ainda mais em um país tão politizado como os EUA, esta razão deve ser levada em conta. Claro que torcedores de Seahawks e 49ers mudariam de canal ou desligariam a TV caso Russell Wilson e Kaepernick protestassem durante o hino nacional americano. Contudo, para um simples espectador, que reside em outro estado e nem tem um time favorito, isso pode pesar.
As partidas de horário nobre não estão correspondendo às expectativas
Saiba que com protestos ou não, se uma partida da NFL está interessante e emocionante, ao invés de tirar as pessoas dos canais de televisão, irá atraí-las. Mas isso não tem acontecido. Claramente a liga vem tendo problemas com os jogos que vão ao ar nos horários nobres, e a semana 7 refletiu bem isso. Na quinta-feira, um Packers-Bears que tinha tudo para ser interessante; no domingo, Cardinals-Seahawks era para ser o jogo da rodada; e na segunda-feira Broncos-Texans marcava o reencontro de Brock Osweiler com seu ex-time. Todavia, infelizmente, todos esses três confrontos – fora aqueles muito aguardados a tarde que não saíram como esperado – foram ou desequilibrados ou desatrativos.
Imagine, por exemplo, se você não torcesse para Arizona nem Seattle e fosse assistir o Sunday Night Football da sétima rodada na expectativa de acompanhar um duelo digno de duas potências da Conferência Nacional. No intervalo, o jogo estava 3-0. É possível e provável acreditar que quem assistia a partida, entediado, daria preferência a outros programas ou tarefas naquele momento, para voltar ao SNF apenas nos minutos finais. E quem fez isso, até viu certas emoções, mas de modo geral, não saiu contente, visto que o placar final não computou nenhum touchdown para as franquias.
Isso se insere perfeitamente no que Roger Goodell disse sobre essa situação. Resumidamente: “A NFL não tem menos pessoas a assistindo, porém quem está assistindo, tem feito isso por menos tempo.”
“Supersaturação” do assunto + política, beisebol, filmes e séries
É importante ressaltar que a partir deste tópico, a análise foi feita muito mais pelo que o público americano votou do que pelo verdadeiro impacto na audiência das partidas, apesar desse se fazer presente.
Acredita-se que o excesso de futebol americano nas emissoras televisivas possa estar influenciando neste caso. A questão é a seguinte: além das partidas televisionadas, que já estão em uma quantidade ideal para quem gosta do assunto, aqueles canais realmente dedicados ao esporte, pela popularidade que a NFL ainda tem, preferem se dedicar majoritariamente ao futebol americano, deixando um desequilíbrio para os outros esportes abordados. Como visto em diversos comentários, “Os canais de esporte tratam da NFL como se tivesse um jogo todos os dias!” – e essa não é a realidade. Deste modo, em momento algum os insatisfeitos no caso pedem o fim do jornalismo voltado ao football. Mas sim uma dosagem ideal pautada na importâncias das partidas e dos dias da semana.
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Juntando os protestos com o fato das principais partidas estarem decepcionando, e os outros fatores citados, o telespectador fica na iminência de mudar de canal e procurar outro programa. Obviamente que, feito isso, um programa ao menos decente já atrairá a atenção de parte desse público. Entretanto, neste caso em específico, a NFL tem, além dos contrapontos mostrados, fortes concorrências.
Tenha em mente que dois acontecimentos históricos estão ocorrendo nos Estados Unidos da América: 1) é época de eleição no país, e justo uma competição envolvendo dois candidatos midiáticos – especialmente Donald Trump – e que, pelas divergências políticas e de personalidades, protagonizaram alguns dos debates mais assistidos na história dos EUA. E 2) o Chicaco Cubs está prestes a quebrar uma escrita que dura mais de cem anos sem conquistar a World Series. Recentemente, a equipe disputou a final da Liga Nacional, fato que, principalmente na partida em que eliminaram os Dodgers, foi marcante para quem ama os esportes americanos – e não tem uma grande partida da NFL para assistir.
Outras questões ainda não resolvidas pela NFL
Na última década especificamente, a NFL tem sido questionada em diversos aspectos, os quais parecem se “agravar” com o passar dos anos. Na temporada 2016, problemas ainda não resolvidos pela liga podem estar impactando diretamente em sua popularidade.
Este é o caso das concussões, que, pautadas pelo questionado protocolo da liga, perecem piorar e tirar por um tempo cada vez mais jogadores importantes de atividade. Além disso, as multas dadas a grandes jogadores por comemorarem seus touchdowns de maneira descontraídas também não tem agradado o público – e com razão, certo, Odell Beckham Jr. e Antonio Brown? Ainda, até mesmo os árbitros têm recebido críticas, por “não levarem a partida como deveriam”; as faltas realmente têm sido constantes, principalmente nos jogos de horário nobre.
Conclusão
Mais uma vez a NFL parece estar encurralada com um de seus problemas. Ainda é cedo para concretizar até que ponto as audiências continuarão caindo e de que modo influenciarão nas decisões futuras da liga. Como ficarão os patrocinadores em alguns anos? Essas baixas são apenas momentâneas? O que pode ser feito para solucioná-las. Assim como é difícil explicar a razão para tudo isso, uma solução não é fácil de ser encontrada. Alterar o estilo de jogo? Diminuir os comerciais? Mudar a programação? Enfim.
Aquilo que muito tempo foi questionado na NFL mas acabava ficando apenas na teoria de um modo geral, parece ter mudado. De algum modo, a liga não vem agradando seus milhões de fãs como agradava há algumas temporadas. A instituição em si não está contente com isso, e terá que resolver este problemas. Pensando a longo prazo, isso é realmente preciso.
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