Playoffs, Foxborough, Tom Brady, Rich Gannon, neve, field goal decisivo, prorrogação e uma das partidas mais marcantes de todos os tempos da National Football League. Em 19 de janeiro de 2002, New England Patriots e Oakland Raiders se enfrentaram pela Rodada Divisional da pós-temporada daquele ano e o resultado dentro de campo foi exatamente como o esperado. As franquias eram duas das melhores da Conferência Americana e era provável que o vencedor daquele confronto estivesse no Super Bowl XXXVI. Aquele jogo terminou 16-13 a favor dos Patriots e, muito mais que uma partida emocionante, veio a ser um dos vários capítulos icônicos que a NFL já teve em sua pós-temporada. Assim como todos os outros, esse deveria ter um nome e, como já sabemos, não dá para apelida-lo de outra coisa que não seja o “Tuck Rule Game”.
As partidas mais simbólicas na história da liga normalmente são denominadas pelo fato mais marcante que nela aconteceu. E tal ato pode ser uma recepção, reviravolta, decisão do treinador, touchdown espetacular, decisão polêmica da arbitragem… O que aconteceu no então ativo Foxboro Stadium, deixou a maioria dos fãs em dúvida e colocou em xeque a capacidade e autoridade das “zebras” dentro de um gramado de futebol americano. Afinal, na época (e de certa forma ainda hoje), quem iria saber a exata definição de Tuck Rule?
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O Tuck Rule Game, até o quarto período, estava sendo tranquilo, com as defesas sendo consideravelmente ajudadas pela nevasca que caia em New England; tanto que até o momento do lance mais emblemático da partida, o placar marcava 13-10 para a equipe californiana. Entretanto, restando exatamente 1 minuto e 50 segundos no último período do confronto que o lance aconteceu. O defensor dos Raiders Charles Woodson sackou tom Brady, fazendo com que a bola caísse da mão do quarterback, aparentemente resultando em um fumble, o qual acabou recuperado pelo time de Oakland. Em outras palavras, pelo tempo restante, é possível dizer que se a posse fosse realmente confirmada para o Oakland Raiders, a franquia estaria na final da AFC.
Todavia, os árbitros revisaram a jogada e, devido à Tuck Rule, alteraram a marcação de campo para passe incompleto. Posteriormente, Brady colocou os Pats em posição de field goal, o qual foi convertido por Adam Vinatieri para empatar o duelo. Na prorrogação, o desfecho foi quase o mesmo: Vinatieri fez o chute vitorioso e levou New England ao primeiro Super Bowl da era Brady-Belichick.
Há quem diga que as “zebras” erraram em usar a Tuck Rule naquele lance, e que os Raiders deveriam ter ido à final de conferência naquele ano. Em contrapartida, há quem apoie a decisão da arbitragem. Assim como discuti sobre a polêmica jogada de Dez Bryant nos playoffs de 2014, é hora de analisar e tentar entender o que aconteceu em New England naquela noite (sem ter a certeza que uma resposta concreta será encontrada).
O que é a “Tuck Rule”?
Antes de qualquer coisa, é preciso ressaltar que o título deste tópico deveria ser “O que era a Tuck Rule”, visto que essa regra não faz mais parte da National Football League – a liga retirou ela de seu regulamento em 2013. Ainda assim, seguimos como se ela ainda estivesse vigente. Saiba que Tuck Rule é a regra que alega que se um quarterback estiver segurando a bola para com seu braço para frente de forma intencional, mesmo que essa caia de suas mãos em algum momento, será considerado um lançamento incompleto. A unica observação aqui é: se essa bola já estivesse “guardada” pelo QB e saísse de seus domínios, a marcação correta é de fumble.
No lance de Brady, o camisa #12, após hesitar em um passe, percebe o defensor chegando e por isso tenta guardar a bola – justamente para evitar um possível fumble. Em outras palavras, ele está na tentativa de proteger/guardar a bola (tuck, em inglês) no momento em que essa acaba saindo de suas mãos após o contato com Woodson. Desta maneira, pela regra, o passe deve ser considerado incompleto, como aconteceu.
A decisão da arbitragem foi correta, mas sem sentido algum
Não acredito que hajam muitas dúvidas sobre o fato das “zebras” terem ou não acertado na maarcação. Claramente, o braço de Tom Brady está se movimentando para frente, com a finalidade de guardar a bola junto ao seu corpo. No processo disso, aconteceu o contato de Charles Woodson, deixando a bola aparentemente “viva”. Exatamente como previa a Tuck Rule (Regra nº3 da NFL, Seção 22, Artigo 2, Nota 2) e que confirmava o passe incompleto. A questão aqui é que a Tuck Rule não faz tanto sentido.
Tanto é que as franquias da liga votaram para a exclusão dela do livro de regras da NFL. Na votação, que aconteceu em 2013, foram 29 votos à favor da eliminação e um contra (Pittsburgh Steelers). Na ocasião, Patriots e Redskins optaram por não votar.
Atualmente, neste mesmo aspecto, a regra que protege o quarteback de um fumble no momento de um passe tange a questão se seu braço estava ou não para frente no momento do sack. Se você ainda não viu o lance o lance da Tuck Rule, veja (clicando aqui), e perceba que não existe uma explicação plausível para uma marcação de lançamento incompleto, afinal, Brady não tinha mais a intenção de lançar a bola naquela jogada. Se formos levar ainda mais adiante, podemos considerar o quarterback um “corredor” no lance – já que ele não iria mais lançar a bola. Esse “corredor” sofreu um contato (com a bola já apontada para baixo) e perdeu a posse. O fumble é claro. Novamente: é, mas não era.
Como mostrado, foi uma escolha muito complicada e que, por mais que não abra espaço para várias interpretações, não faz muito sentido tendo em mente os padrões atuais da liga. Sabendo de tudo isso, da repercussão que aquela chamada teve no futebol americano profissional e da importância daquele confronto, podemos dizer que o Tuck Rule Game foi um jogo que não terminou por inteiro – e não terminará.
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