No dia 11 de janeiro de 2015 – isso mesmo, já se fazem mais de dois anos desde aquele confronto –, Dallas Cowboys e Green Bay Packers se enfrentaram no Lambeau Field, em um dos confrontos mais emblemáticos dos últimos tempos entre as franquias. A partida era válida pela Rodada Divisional dos playoffs, e quem vencesse ali enfrentaria o Seattle Seahawks na decisão da Conferência Nacional. Naquele ano, os Packers e Cowboys tiveram campanhas iguais 12-4, e o fato de Green Bay ter terminado a frente se deu pelos critérios de desempate. Os cabeças-de-queijo, essencialmente, contavam com Aaron Rodgers, o MVP daquela temporada regular. Já Dallas, tinha em mãos um de seus melhores times da última década, o qual era representado pelo trio Romo-Murray-Bryant.
Como já era esperado, o confronto foi extremamente equilibrado, decidido apenas nos minutos finais. Os Packs acabaram a tarde como vencedores, depois perderam de uma maneira incrível para os Seahawks, os quais chegaram até o Super Bowl e estiveram à duas jardas de seu segundo Super Bowl consecutivo… Todavia, antes mesmo de Seattle protagonizar aquela incrível virada contra Green Bay, o assunto mais debatido na National Football League era o duelo Packers-Cowboys. Especificamente, um lance daquele confronto, o qual, muito provavelmente, mudou o vencedor da batalha. “Dez Bryant completou ou não a recepção?”
LEIA TAMBÉM: Tim Tebow – um fenômeno inexplicável que o futebol americano pôde presenciar por pouco tempo
O Dallas Cowboys perdia por 26-21, restando 4 minutos e 40 segundos para o fim do jogo, e estava na linha de 32 jardas do campo de ataque, deparando-se com uma quarta descida para duas jardas, e com dois timeouts para pedir Em outras palavras, a chance dos Cowboys de vencerem a partida estava em conseguir aquele first down para então manter vivo o objetivo de anotar um touchdown. Afinal, entregar a bola de volta para Rodgers sem ao menos um field goal naquele momento era uma derrota quase certa – como de fato aconteceu.
Assim sendo, saindo no shotgun, Tony Romo percebeu que Dez Bryant estava em um confronto individual favorável e decidiu fazer o lançamento na direção de seu melhor wide receiver, o qual teve em 2014 possivelmente a melhor temporada de sua carreira. O passe foi feito – muito bem, diga-se de passagem – e Bryant segurou a bola (atrapalhado pelo defensor dos Packs), caindo dentro da linha de uma jarda. Qualquer torcedor dos Cowboys naquele momento não podia acreditar: a equipe estava mais próxima de chegar à final da NFC, algo que não acontece desde 1995. Entretanto, a alegria de Dallas durou pouco.
A jogada foi revisada a pedido de Mike McCarthy e, enquanto alguns fãs de Dallas acreditavam que até mesmo um TD poderia ser percebido ali, tudo mudou. A marcação da arbitragem foi revertida, a bola voltou para Green Bay e A-Rod só precisou administrar o cronômetro… Mas por que aquela jogada gerou tanta confusão? Por que os árbitros cancelaram a recepção de Dez Bryant?
(Por que Romo fez aquela jogada?)
Antes de seguir para o mais importante, decidi fazer um parênteses sobre a chamada ofensiva do Dallas Cowboys naquela quarta para duas jardas. Quando Tony Romo fez aquele lançamento, em profundidade, buscando o camisa #88, com a bola ainda no ar, pensei comigo: essa é uma decisão que eu nunca teria feito se fosse o quarterback. Veja bem: você está jogando fora de casa, no inverno de Green Bay, contra o melhor quarterback do momento. Além disso, você já está no seu campo de ataque e precisa de apenas duas jardas para seguir com a bola. Sem contar que quanto mais devagar os Cowboys avançassem ali, melhor, já que quanto menos tempo de posse Aaron Rodgers tivesse, menores as chances dele “tirar um coelho da cartola”.
Por que Dallas não traçou uma jogada de passe curto, para Bryant ou até mesmo Jason Witten, um dos tight ends mais seguros da história? Por que não um passe para os lados do campo com seu running back, que foi o melhor daquela temporada? Enfim, são apenas teorias que ao meu ver fariam mais sentido naquela conjuntura. Optar por uma chamada mais conservadora, digamos assim, talvez fosse a melhor opção. De qualquer forma, segue a explicação para a decisão de Romo:
Na imagem, os traços amarelos relacionam o recebedor com seu marcador individual. Os círculos vermelhos em abaixo dos jogadores indica todos os defensores do Green Bay Packers que irão pressionar Tony Romo.
Claramente, os Packers queriam fazer Romo se livrar rápido da bola, sem tanto tempo para executar as leituras das jogadas – por isso a chamada de blitz. Isso fez com que o camisa #9 notasse o confronto individual muito (!) favorável a Dallas em Dez Bryant e Sam Shields – e o traço azul saindo de Romo na imagem mostra o momento em que ele analisa seu alvo favorito. Bryant é quase 10 cm maior que Shields e em termos de força, nem podemos comparar um ao outro.
Desta forma, Romo precisou apenas fazer um passe longo e alto para que Bryant fizesse uma recepção espetacular (ou pelo menos nos desse a impressão disso). Uma pena que que não podemos concretizar aquilo como uma recepção…
Por que a arbitragem alterou a marcação oficial?
Pois o recebedor não manteve o domínio da bola durante o processo de recepção. Em outras palavras, de acordo com os árbitros, Bryant não completou o processo de recepção pois perdeu o controle da bola ao tocar o chão. Foi exatamente isso que as zebras viram naquele lance.
E está claro na regra que não é configurada uma recepção caso o atleta perca o domínio dessa ao tocar o gramado enquanto ainda estiver no processo de recepção. Esse processo de recepção, aliás, é estipulado por “três etapas” (ou duas etapas e o chamado “movimento de futebol americano). Ou seja, para um jogador conseguir uma recepção, primeiramente ele precisa segurar a bola, depois ter seus pés (ou alguma parte do corpo) no gramado e então se tornar um corredor na jogada. Essa parte de se tornar um corredor tange a questão do “football move”. Assim sendo, pode-se dizer que um recebedor precisa das duas etapas e de um claro movimento de futebol americano, provando então que sua recepção realmente aconteceu, pois ele foi capaz de realizar outros movimentos uma vez com a posse da bola.
Desta maneira, conclui-se que os árbitros consideram que Dez Bryant não manteve o domínio da bola ao tocar o gramado. Para as zebras, Bryant não chegou a realizar o “football move”, e o fato dele ter esticado os braços visando a endzone foi para eles uma parte do processo de recepção, nunca um movimento de corredor. Olhando dessa perspectiva, tenho que concordar que a arbitragem acertou. Porém, cada vez que eu assisto a jogada novamente…
…Eu acho que as zebras erraram na marcação
A regra da NFL para o que é uma recepção não está bem definida, isso é fato. Essa situação talvez seja grande demais para depender apenas de uma interpretação de arbitragem. Certamente que se desprender dessas decisões é quase que uma ideia utópica, contudo seu impacto poderia ser ao menos camuflado.
Se voltarmos para uma jogada que gerou polêmica pelo mesmo sentido, é possível comparar a recepção de Dez Bryant com a recepção de Calvin Johnson contra os Bears. Mas é possível mesmo? Diga-se de passagem, foi essa jogada de Johnson que trouxe o fato “tornar-se um corredor” à tona. Olhando a jogada envolvendo Megatron, realmente não dá par cravar se ele veio a ser ou não um corredor no lance; pelo contrário, a impressão que fica é que ele completou as duas etapas iniciais mas perdeu a posse da bola ao tocar no chão, antes de realizar a terceira etapa desse processo.
LEIA TAMBÉM: Os Patriots têm a melhor dupla de cornerbacks da NFL?
Em contrapartida, consigo ver um esforço a mais de Dez Bryant em sua recepção no Lambeau Field claramente, buscando anotar o touchdown, fato que configuraria um movimento de corredor, tornando o lance legal.
Se a regra impõe que existam três etapas em um processo de recepção – ou duas etapas e um “football move” – não há nenhuma especificação que isso aconteça “separadamente”. Em outras palavras, é possível que um wide receiver consiga todas essas etapas de uma só vez (ou quase isso) – como Bryant aparentemente conseguiu naquele lance.
Está claro na regra que o recebedor deve ter o domínio total da bola durante o processo de recepção – e foi isso que os árbitros disseram que Bryant não fez em Green Bay. Entretanto, uma vez que o processo de recepção foi concluído, e o jogador inclusive fez esforços a mais buscando encontrar a endzone (com total noção de equilíbrio do seu corpo e do que estava fazendo), ele já completou o processo de recepção, e a perda da bola após o toque com o gramado não influencia em nada além de encerrar a jogada naquele ponto. Leia esse parágrafo e logo em seguida veja a não!!!!!recepção de Bryant novamente. Não faz sentido?
O que você faria se fosse a arbitragem naquela jogada? Mande sua opinião para nós nos comentários ou pelas redes sociais!
–
Siga-nos no Twitter @ShotgunFA
Curta no facebook.com/shotgunfootball