Recentemente, fiz um texto abordando a evolução da posição de quarterback na National Football League. Como a posição ganhou importância, como ela se adaptou ao longo da história e, principalmente, como os QBs atingiram seu nível mais alto. Como falado no artigo em questão, engana-se muito quem pensa que os quarterbacks sempre foram os principais jogadores de um time de futebol americano – para ler a matéria, CLIQUE AQUI.
Com uma retrospectiva da posição de quarterback feita, é hora de olharmos para ela sob uma outra conjuntura. Um olhar que, ao invés de analisar tudo que já aconteceu, projete o futuro para esta função. Como será a próxima geração de quarterbacks da NFL?
Se essa pergunta fosse feita há umas cinco temporadas, haveria quem afirmaria que em alguns anos estaríamos vendo temporadas que ultrapassassem as 6.000 jardas aéreas para um quarterback, e porquê não os 60 touchdowns. Contudo, depois da “Era Dourada” dos QBs, período em que eu considerado entre aproximadamente 2008 e 2015 (Eli Manning passou das 4.900 jardas, Matthew Stafford entrou no grupo das 5.000), os padrões parecem estar mudando. Aquele era de exímios pocket quarterbacks, com Peyton Manning, Tom Brady, Drew Brees e companhia, não parece se repetir nos próximos anos. Mas não devemos lamentar por isso.
O estilo do jogo atual exige uma mudança na posição
Ao que tudo indica, a próxima geração de quarterbacks só não estará nesse padrão essencialmente passador pois o jogo tem mudado constantemente. Cada vez mais ele está dinâmico, instintivo. Os defensores, além de mais fortes e atléticos, têm demonstrado enorme versatilidade, a qual obriga os ataques a inovarem, consequentemente. Assim sendo, as tendências para a posição de quarterback parecem entrelaçar o campo dos atletas mais versáteis, capazes de fazer bons lançamentos, mas ao mesmo tempo de estender uma jogada com uma corrida para a lateral, por exemplo.
Não precisamos nem ir muito longe para entender o que está por vir. Se relembrarmos o Draft 2017, é possível citar rapidamente vários fatos que mostram como os tempos são (ou estão encaminhados a ser) outros. O recorde do Tiro de 40 jardas foi quebrado por três segundos por John Ross (4,22 seg) – e há quem diga que esse será quebrado nos próximos dois Combines; Jabrill Peppers ainda levanta discussões sobre em que função deve atuar, sendo a de safety e linebacker as principais delas; Obi Melifonwu está oficializado como um safety mas a impressão que fica é que, com uma técnica refinada, ele seria imparável em basicamente todas as posições. Isso para não falar na grande quantidade de jogadores híbridos que vimos na temporada passada da NFL.
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A partir disso, pode-se concluir que, para um sistema ofensivo continuar prosperando, será preciso que inovações também aconteça. Naturalmente, espera-se que a posição mais importante desse setor sofra alterações. Algumas dessas mudanças ofensivas já estão sendo vistas com frequência: tight ends, fisicamente falando, têm se assemelhado cada vez mais a wide receivers; running backs, ao menos que seja um exímio corredor, precisa saber receber passes; offensive linemen foram vistos correndo abaixo dos 5 segundos no Combine. Fatos como esses mostram que os ataques também estão em mudança no futebol americano profissional – e é inevitável que isso não acontecesse com os quarterbacks.
Desta maneira, uma nova era de quarterbacks está por vir. Quando exatamente? Não dá para cravar. Mas acredito que mais da metade do trajeto para domínio desse estilo na liga esteja percorrido, uma vez que não se vê mais exímios pocket quarterbacks de alto nível em abundância nos dias de hoje. Um bom quarterback, logicamente, ainda precisa saber fazer as leituras dentro do pocket e executar o lançamento correto; todavia, ele precisa estar preparado para receber pressão adversária e estender a jogada sempre que necessário…
Sejam bem-vindos, “dual-threat quarterbacks”!
Não sei se a melhor definição para a próxima geração de quarterbacks seria de dual-threat quarterbacks. Contudo, considerando que esses têm “duas armas de jogadas a cada lance” (o passe e a corrida), a definição está bem idealizada.
Andrew Luck, Marcus Mariota, Jameis Winston, Cam Newton, Russell Wilson… Esses são apenas alguns dos nomes que devem ser os ícones da próxima geração de quarterbacks da NFL. O que eles têm em comum? Muitas coisas. Entre elas, o fato de terem braços eficientes e precisos, acompanhados de habilidade e técnica com as pernas ao mesmo tempo. Desta forma, se a receita para “anular” Brady ou Brees, por exemplo (considerando que isso seja possível de fato), é pressioná-lo o máximo possível, o mesmo não pode ser dito para esses novos nomes.
Em 2015, Cam Newton foi quase imparável e acabou vencendo o MVP da temporada regular. Naquela ocasião, ele passou para mais de 3.800 e correu para mais de 600 jardas, além de ter totalizado 45 touchdowns. Claramente, as defesas tinham dificuldade em conter o camisa #1, uma vez que fechar o pocket nem sempre era a solução. Esses “novos quarterbacks” solicitam que os pass rushers (em qualquer lugar da linha defensiva) estejam atentos a todo momento.
Se no passado o principal pass rusher era aquele que melhor conseguisse dominar seu bloqueador em termos de força (e aqui relembro nomes como Bruce Smith, Reggie White, Kevin Greene), atualmente esse domínio ainda permanece, porém em uma combinação de força e agilidade (em termos de habilidade atlética), principalmente – o fato de Von Miller e Khalil Mack serem os dois melhores na função fala por sí só. Assim sendo, enquanto praticamente a única maneira de um Tom Brady se livrar de Miller é fazendo leituras rápidas de seus recebedores, um Russell Wilson também tem a real possibilidade de correr com a bola, o que dificulta o trabalho dos defensores.
(Fechando a conta)
É preciso ressaltar por fim que a NFL não estará retornando ao seus padrões da década de 1950 na posição de quarterback, quando esse pensava apenas em correr. Não é nada disso. A questão aqui é que a rotina de um quarterback será mais facilitada se ele tiver habilidade com as pernas também – e isso é algo que será ainda mais apurado durante o college football (já está, na verdade).
Contudo, a técnica dos lançamentos, a decisões certeiras nas jogadas e a capacidade de executar um passe preciso ainda seguem sendo requisitos cruciais para um quarterback. Portanto, terá mais sucesso aquele QB que souber mesclar mais adequadamente sua capacidade de lançar com sua disposição para correr com a bola. Em outras palavras, espere os “novos quarterbacks” tendo a habilidade física dos QBs antigos, com a noção de um passador de pocket dos QBs recentes – esse, pelo menos na teoria, será o quarterback ideal, digamos assim.
Tudo isso nos induz a pensar que temporadas com 6.000 jardas aéreas e 60 touchdowns serão adiadas na NFL, sem data marcada para acontecerem. Entretanto, esteja atento para novos recordes sendo quebrados e, então, considere como uma questão de tempo até que outro QB corra para mais de 1.000 jardas em uma temporada, como Michael Vick conseguiu em 2006.
Quais serão os principais quarterbacks da nova geração da NFL? Mande sua opinião para nós nos comentários ou pelas redes sociais!
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