No dia 3 de fevereiro de 2018, Raymond Anthony Lewis Jr., o Ray Lewis, foi eleito para o Hall da Fama em seu primeiro ano de elegibilidade. Certamente que o fato disso ter acontecido dessa maneira não é surpresa alguma, afinal, estou me referindo a um dos maiores de todos os tempos. Entretanto, esse fato acabou servindo de gancho para aproveitar o período “sem futebol americano” em grande estilo: por que não relembrar a carreira de Lewis, inserindo-o na coluna “Três fatos sobre a carreira…”?
E não existem razões para não ler algo que destaque o legado de Ray Lewis na NFL. Se você começou a acompanhar a liga há oito ou mais temporadas (quem sabe até um pouco menos que isso), entende exatamente o que estou falando. Caso você seja um fã mais recente do futebol americano, tenha visto pouco do que Lewis fez em campo e basicamente só o conhece pelo que dizem dele por aí, aproveite, essa é uma boa oportunidade para saber um mais de um dos melhores defensores que o mundo já viu.
LEIA MAIS “TRÊS FATOS SOBRE A CARREIRA”:
– Peyton Manning
– Joe Montana
– Vince Lombardi
Sem mais delongas, é hora de relembrar sobre o maior jogador da história do Baltimore Ravens, melhor linebacker das duas últimas décadas (pelo menos), um dos grandes líderes que o futebol americano já viu e um jogador com um legado invejável. É hora de saber mais sobre Ray Lewis!
A (única) parte negativa
Analisando a carreira de Ray Lewis como um todo, dentro e fora de campo, não seria um absurdo afirmar que ela contém apenas um ponto realmente negativo, o qual não colocou Lewis como o culpado do fato, mas certamente não está ao lado dele.
Um dia após o Super Bowl da temporada de 1999 (Rams vs. Titans), em Atlanta, Ray estava em um bar para uma festa da decisão e acabou, juntamente com seus amigos, envolvendo-se em uma briga. Essa confusão deixou dois mortos do grupo que brigou com Lewis e companhia – Jacinth Baker e Richard Lollar. De acordo com as testemunhas, Ray Lewis pouco participou da briga, porém esteve lá durante todo o tempo, uma vez que suas companhias faziam parte da confusão. O problema foi que Lewis mais tarde omitiu fatos e mentiu para a polícia, a fim de tanto não atrapalhar sua carreira na NFL quanto proteger seus companheiros.
LEIA TAMBÉM: A NFL deve permitir que os jogadores usem maconha?
Ray Lewis e dois de seus amigos (Reginald Oakley e Joseph Sweeting) foram acusados de assassinato, uma vez que, entre outros motivos, o terno usado por Lewis naquele dia jamais foi encontrado e havia sangue de Baker no carro do jogador. Entretanto, Ray conseguiu um acordo com a Justiça e, em troca de testemunhar contra os outros dois envolvidos na briga, passou a ser julgado somente por obstrução de justiça. Além disso, de acordo com o juíz do caso, Oakley e Sweeting também não foram condenados, uma vez que tomaram seus atos como legítima defesa.
Esta foi, sem dúvidas, a pior passagem de Ray Lewis desde que ele se tornou jogador profissional de futebol americano. De fato, Lewis foi inocentado e, ao que tudo indica, a confusão só se tornou grande para ele pois tentou defender seus amigos desde o começo. De qualquer forma, é um capítulo turbulento na carreira de Ray Lewis. Se existe algo “positivo” nessa história, contudo, é que Lewis conseguiu dar a volta por cima, tornou-se uma grande referência para o esporte e escreveu seu nome na NFL mesmo após esse acontecimento infeliz no começo de sua carreira.
Ray Lewis é Baltimore Ravens, e Baltimore Ravens é Ray Lewis
Ray Lewis é o grande ícone da história do Baltimore Ravens. A franquia, que foi fundada em 1996, atravessava um enorme vazio em termos de futebol americano quando começou suas atividades, pois o Baltimore Colts, uma das organizações mais tradicionais da época, acabou mudando de Baltimore para Indianapolis em uma madrugada em março de 19884 – entenda mais sobre os processos de relocação da NFL aqui. Então, aquela cidade, que passou décadas se apoiando nos Colts, estava desacreditada no que tange esportes, uma vez que o time não estava mais por lá; até que os Ravens apareceram. É preciso ressaltar que Baltimore voltou a ter um espírito vitorioso e competitivo bem antes que o esperado – e nada disso teria acontecido se não fosse por Ray Lewis, o segundo jogador recrutado na história dos Ravens (26ª escolha geral do Draft 1996).
LEIA TAMBÉM: O que os atuais treinadores da NFL faziam bem antes de se tornarem head coaches
Lewis vestiu as cores do Baltimore Ravens durante 17 temporadas. Nesse período, o camisa #52 liderou a franquia em tackles totais em 13 campeonatos, tendo sido nomeado o Defensor do Ano duas vezes (2000 e 2003), eleito ao Pro Bowl em 13 ocasiões e marcando presença em sete All Pro Teams. Entre 1996 e 2012, contando playoffs, estima-se (lembrando que a NFL começou a marcar oficialmente o quesito tackles a partir de 2001) que Ray Lewis tenha totalizado 2.275 tackles. Nesse período é preciso destacar ainda que o linebacker foi o grande líder de um dos melhores sistemas defensivos de todos os tempos – o do Baltimore Ravens em 2000. Aquela defesa dos Ravens terminou a temporada regular permitindo um total de 165 pontos e cedendo em média pouco mais de 60 jardas terrestres por jogo.
Todos esses feitos foram coroados e glorificados ainda mais em duas temporadas, justamente nos dois Super Bowls conquistados por Baltimore na era Ray Lewis. Isso aconteceu contra os Giants em 2000, ano em que Lewis ainda foi nomeado o MVP da decisão, e diante dos 49ers em 2013, em um desfecho memorável de seu legado.
Um desfecho memorável – e o dia 3 de fevereiro
Na temporada de 2012, Ray Lewis já sabia que sua carreira estava na reta final. Era questão de um ou dois anos para que ele, um linebacker extremamente intenso e explosivo que chegou à NFL em 1996, pendurasse as chuteiras. O que Lewis não esperava era uma lesão no tríceps sofrida em outubro, a qual, de acordo com os primeiros diagnósticos, possibilitaria o jogador estar em campo somente no começo de fevereiro; ou seja, se os Ravens chegassem até a decisão. Todavia, Ray Lewis teve uma recuperação impressionante e, já para a semana 17 do campeonato regular, teria condição de jogo. Então, ele decidiu esperar para retornar somente aos playoffs e declarou que aqueles jogos (até onde Baltimore chegasse na pós-temporada) seriam seus últimos no futebol americano.
LEIA TAMBÉM: Quando Jason Witten será eleito para o Hall da Fama?
Arrisco a dizer que o desfecho desta história nem mesmo o melhor dos roteiristas (até se ele fosse torcedor dos Ravens) poderia imaginar: o Baltimore Ravens, que se classificou como #4 na AFC e teve que desbancar os Broncos de Peyton Manning em Denver e os Patriots de Tom Brady em New England nos playoffs para chegar ao Super Bowl XLVII, conseguiu ainda derrotar o melhor San Francisco 49ers pós-era Steve Young. Foi a redenção de Joe Flacco, o encontro dos irmãos Harbaugh, a surpresa de Baltimore e, acima de tudo, o último jogo de Ray Lewis sendo coroado com o Troféu Vince Lombardi. Flacco foi, de fato, o diferencial dos Ravens naquela caminhada (11 touchdowns e nenhum interceptação); contudo, o símbolo da conquista foi Lewis o qual, retornando de lesão e com os dias contados na NFL, totalizou 51 tackles em quatro partidas.
E sabe que dia ele conquistou esse último Super Bowl e, consequentemente, pendurou as chuteiras? No dia 3 de fevereiro de 2013. Isso mesmo, o mesmo terceiro dia do segundo mês do ano foi a data em que Ray Lewis encerrou sua carreira da forma mais gloriosa possível e teve seu nome “imortalizado” em Canton (como as primeiras palavras deste texto mostraram). Sorte do dia três de fevereiro, é claro. Porém, mais sorte ainda dos amantes do futebol americano que puderam acompanhar Lewis durante 17 temporadas, no mínimo quatro meses por ano e 60 minutos por semana.
– O que mais lhe chama atenção na carreira de Ray Lewis?
– Gostou do texto? Mande sua opinião para nós nos comentários ou pelas redes sociais, pois queremos saber seu feedback
–
Siga-nos no Twitter @ShotgunFA
Curta no facebook.com/shotgunfootball