Como introduzido no capítulo passado, o soberania das defesas na década de 1970 da NFL fez com que a liga pensasse em medidas que ajudassem os ataques. Como falado também, as últimas temporadas daquela década mostraram que imediatamente às novas regras de ataque, começaram a aparecer efeitos disso dentro de campo – basta ver o sistema ofensivo do San Diego Chargers em 1979. Um pouco mais tarde, quando Bill Walsh (ex-assistente técnico dos Chargers) foi contratado para ser head coach do San Francisco 49ers, a National Football League viu um novo conceito de jogo (e uma dinastia) surgir, dando uma nova cara ao futebol americano.
Falar da década de 1980 da NFL e não falar dos 49ers, é como falar da década de 1940 sem incluir os Rams; de 1950 sem os Browns; 1960 sem os Packers; e 1970 sem os Steelers. Acredite ou não, mas é possível dizer que a soberania (talvez seja melhor dizer o impacto para o jogo) que San Francisco teve nos anos 80 tenha sido maior do que qualquer outra vista na liga até então. Não à toa, aquele time venceu quatro Super Bowls em dez anos.
Mas a década de 1980 do futebol americano profissional vai além dos Niners e o que eles fizeram dentro de campo (mais detalhes abaixo). Não podemos nos esquecer da “46 Defense” do Chicago Bears, a qual é considerada por muitos a melhor defesa que já existiu. Vimos ainda o Washingon Redskins brilharem com um sólido ataque na conquista de dois anéis. Em contrapartida, faltou troféu para o Denver Broncos – e não foi por falta de oportunidade.
O atual estilo de jogo da NFL, que em muitos casos dá o ataque a capacidade e liberdade de controlar o relógio sem um jogo corrido de qualidade, se dá muito em decorrência do que Bill Walsh e companhia fizeram no passado. Imaginar a National Football League sem os seus fatos da década de 1980, em outras palavras, é como se você escalasse um time de futebol no 4-3-3, mas não ensinasse/permitisse que ele usasse seus meias (os quais fazem a ligação entre ataque e defesa, com passes curtos, articulações, lançamentos). Alguma coisa estaria incompleta.
Veja mais: “História da NFL”
– (Cap. I) Como tudo começou
– (Cap. II) A grande depressão, a quebra de uma padrão e o surgimento das primeiras lendas
– (Cap. III) 2ª Guerra Mundial, a cultura do jogo e o fim da barreira racial
– (Cap. IV) O maior jogo de todos os tempos e o fim da AAFC
– (Cap. V) Vince Lombardi faz história e a AFL entra em pauta
– (Cap. VI) Defesas dominantes e uma temporada perfeita
“The West Coast Offense”
Como explicar o que é o “West Coast Offense” (WCO)? A resposta mais fácil para isso seria desenhar um esquema ofensivo de futebol americano, com alguns Xs, Os e seus traços (as rotas), afinal, é assim que fazemos com a formação em T, a Pistol e até mesmo o Shotgun. Contudo, o WCO não é bem assim. Não podemos defini-lo como um esquema de jogo; muito menos como uma formação ou estratégia. O melhor conceito aqui seria ideologia.
Essa ideologia, então, consiste em passes curtos, simples e objetivos, em rotas perfeitamente calculadas e rápidas entre quarterback e wide receiver. Fazendo isso, se bem executado, o time que está atacando passa a conseguir controlar o relógio sem precisar necessariamente correr com a bola.
“Mas então essa equipe abre mão do jogo corrido?” Não, porém o deixa para segundo plano, digamos assim, acionando-o em situações específicas e/ou necessárias. Em outras palavras, o sistema ofensivo vai avançando através de passes curtos (porém efetivos), o que cansa a defesa adversária, controla o cronômetro, e ainda ganha jardas. Se quiser resumir amplamente, diga que o WCO é correr com a bola, porém lançando.
Atualmente, o exemplo mais concreto de West Coast Offense que temos na NFL é o ataque do New England Patriots. Repare que em muitas campanhas vemos os Patriots gastando seis ou sete minutos do relógio e anotando um touchdown, mas tendo corrido uma ou duas vezes apenas. Isso acontece justamente porque Tom Brady abusa dos passes curtos e rápidos, conseguindo avançar da mesma forma com eles. Uma espécie de “conservadorismo produtivo” – é importante ressaltar aqui que não devemos dizer que “Bill Walsh é o pai do West Coast Offense”. Este ideologia ofensiva foi muitas vezes vista e utilizada por outros treinadores, até ser usada por outros head coaches, mas de acordo com suas preferências. Os técnicos que melhor souberam ajustar e intervir no WCO, tiveram maior sucesso (e Walsh talvez seja o principal nome desta conversa).
O destino esteve ao lado de muitos times na década de 1980, mas não de todos
Se já é complexo montar uma defesa contra um West Coast Offense bem executado atualmente – com todas as tecnologias, treinamentos e pesquisas –, imagina na década de 1980, quando tal pensamento praticamente foi inserido nos gramados da National Football League. E foi assim que aquele San Francisco 49ers dominou a década, aparecendo e vencendo quatro Super Bowls. Interessante lembrar que Bill Walsh assumiu os Niners em 1979 e em apenas duas temporadas levou o time à decisão. Acima, falamos em WCO bem executado; que tal um protagonizado por Joe Montana, Roger Craig e Jerry Rice?
Juntamente com San Francisco, Washington Redskins e Oakland/Los Angeles Raiders foram os times que venceram mais de um Super Bowl. Os Redskins dos anos 80 estiveram no Grande Jogo três vezes (1982, 1983 e 1987), tendo vencido em duas oportunidades, cada uma com sólidos quarterbacks: Doug Williams e Joe Theismann, respectivamente. Já os Raiders, garantiram o anel em 1980 e 1983, sob a liderança de Jim Plunkett.
Em contrapartida, para duas franquias em específico, a década de 1980 acabou não sendo muito generosa. Para o Cincinnati Bengals, por exemplo, o que seria se não fossem os encontros com Joe Montana e os 49ers? Saiba que nos anos 80 – época em que Cincinnati teve o melhor time de sua história –, a equipe disputou dois Super Bowls, ambos contra os Niners, e a diferença no placar final do jogo foi de cinco e quatro pontos, respectivamente (1981 e 1988) Desde então, os Bengals nunca mais voltaram a disputar um Grande Jogo e permanecem como um dos 13 times da NFL que nunca foram campeões.
LEIA TAMBÉM: As 5 piores derrotas de todos os tempos em Super Bowl
Ainda, não podemos deixar de citar o Denver Broncos. Já comandado por John Elway, aquele time dos Broncos foi capaz de disputar três Super Bowls em um intervalo de quatro anos. O problema para a franquia do Colorado foi que a equipe saiu de campo derrotada em todas as ocasiões, sendo que a diferença média dos placares finais foi de 32 pontos para o oponente.
> Sentiu falta de Dan Marino no texto? Como não citamos aquela temporada de 1984 do camisa #13, a qual é uma das maiores que a NFL já viu? Pela organização da série “História da NFL”, deixamos os destaques individuais fora de grande parte dos relatos. Todavia, no caso de Marino, há um texto especial sobre seu legado na National Football League, basta clicar aqui.
Fatos/curiosidades da época
- Na temporada de 1988, após a conquista do Super Bowl XXIII, Bills Walsh anunciou sua aposentadoria; ele é o único head coach da história da NFL até hoje a ter vencido um Super Bowl em seu último jogo na função;
- A carreira de Jim Plunkett é uma das mais estranhas da National Football League. Ele foi selecionado na primeira rodada do Draft de 1971 pelos Patriots, mas nunca engrenou por lá; ele também teve passagem apagada pelos 49ers. Seu melhor momento na liga aconteceu justamente quando ninguém esperava, entre 1978 1986, quando ele venceu dois Super Bowls com os Raiders. Aliás, Plunkett é o único quarterback elegível da NFL a ter começado e vencido dois Super Bowls e que não foi eleito para o Hall da Fama;
Fontes: Wikipedia, Pro Football Hall of Fame, History.com, The Official Treasures of the NFL.
(Capítulo VIII) National Football League (NFL): A década de 1990 – no site em 23/03
Gostou do texto? Não se esqueça de compartilhá-lo! Entre em contato conosco pelas nossas redes sociais, deixando seu comentário e opinião sobre o assunto.
–
Siga-nos no Twitter @ShotgunFA
Curta no facebook.com/shotgunfootball