A história da NFL é claramente gradativa, talvez a mais entre os esportes americanos. Se resumirmos ela, veremos que desde a década de 1930 (quando ela começou na prática) até a de 1960, vimos as medidas tomadas para estabilização da liga, a independência financeira das equipes e expansão territorial (e racial) do futebol americano, a popularização do esporte nos EUA e a definição do atual formato de campeonato, com o Super Bowl sendo o ponto máximo deste processo. Desta forma, podemos dizer que a National Football League, após os anos 60, enfim estava pronta, estruturalmente falando. Talvez por isso, daqui pra frente (1970 até além dos anos 2000), as décadas da NFL não ficaram marcadas por fatos e/ou conquistas internas; mas sim pelos estilos de jogo predominante, pelas dinastias que representavam isso.
Assim sendo, a partir da década de 1970, em que as defesas dominaram a liga, veremos que o jogo foi se desenvolvendo. Logo em seguida, os ataques começaram a despontar com um tal de Bill Walsh e os 49ers (West Coast Offense, guarde este nome); depois, foi a vez dos running backs ganharem mais importância; mais tarde, saem os corredores, entram os quarterbacks, os quais começam a cada vez mais se aproximarem de temporadas até então imagináveis. E é isto que temos visto na atualidade. Mas qual o limite para isso? Isto é assunto para outro momento…
Entender a década de 1970 da NFL é conhecer alguns dos times mais dominantes de todos os tempos, das grandes defesas que já existiram também. Ainda, é relembrar uma campanha jamais vista na história da National Football League. De quebra, para mostrar a classe pela qual estamos acostumados, devemos lembrar que nomes como Terry Bradshaw e Roger Staubach protagonizaram aquele período. Por fim, junte a dominância dos sistemas defensivos com o brilho de certos nomes de ataque… Os anos 70 da NFL, sem dúvidas, foram um dos mais interessantes que já se passaram.
Veja mais: “História da NFL”
– (Cap. I) Como tudo começou
– (Cap. II) A grande depressão, a quebra de uma padrão e o surgimento das primeiras lendas
– (Cap. III) 2ª Guerra Mundial, a cultura do jogo e o fim da barreira racial
– (Cap. IV) O maior jogo de todos os tempos e o fim da AAFC
– (Cap. V) Vince Lombardi faz história e a AFL entra em pauta
Defesa, defesa e mais defesa – com um raro brilho no ataque
“Ataques vencem jogos, defesas ganham campeonatos!” Se você acompanha o futebol americano há algum tempo já deve ter ouvido esta frase um bocado de vezes – e ela de fato tem suas mediações para aparecer tanto. Contudo, se voltássemos no tempo (especificamente na década de 1970), entenderíamos de fato este significado. De 1970 até 1979, nos dez Super Bowls disputados, o melhor ataque do confronto venceu em apenas duas ocasiões – saiba que este critério muitas vezes era de difícil julgamento na época, uma vez que houve finais em que duas ótimas defesas se enfrentaram.
Outro fato ainda chama a atenção nos Super Bowls desta época: em três deles, nenhuma das duas equipes marcou mais de 16 pontos. Além disso, em sete casos, o time derrotado não conseguiu anotar mais de um touchdown, a outra pontuação fora no máximo um field goal.
Além disso, acredito que seja certo dizer que para a maioria dos fãs de football, pelo menos cinco da defesas que apareceram nos anos 70 podem ser consideradas das maiores de todos os tempos – fizemos uma lista sobre isso há alguns meses. O que dizer sobre a “Steel Curtain” do Pittsburgh Steelers, que chego a ceder 3,1 pontos de média por partida nos últimos nove confrontos de 1976 (e ainda conquistou três Super Bowls)? Acredite ou não, mas o grupo de defensores dos Rams que ficou conhecido como “Fearsome Foursome” foi capaz de permitir apenas 9,6 pontos por partida em 1975. E que tal o “The Purple People Eaters” que teve esta média em 9,9 tentos na temporada de 1971 e ainda viu Alan Page se tornar o primeiro defensor a vencer o MVP da liga?
Não se esqueça também da “No-Name Defense” dos Dolphins, da “Orange Crush” dos Broncos… Enfim, são vários os sistemas defensivos dominantes da década de 1970 na NFL. Isso talvez explique porquê neste período a National Football League viu sua temporada mais fraca da história em termos de pontos marcados.
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“Ah, mas com tantas defesas dominantes assim, o jogo poderia ficar sem graça em muitas ocasiões. Não?” De certo modo, pelo que estamos acostumados atualmente na NFL, é possível dizer que o jogo ficaria diferente. Contudo, apesar de todos os sistemas defensivos absurdos visto na década de 1970, grandes nomes de ataque também apareceram – e isso foi algo que deu algo a mais para aquele período.
Por exemplo, poucos quarterbacks que já atuaram na National Football League foram melhores que Terry Bradshaw; e ele venceu três Super Bowls com os Steelers nos anos 70. Naquele time de Pittsburgh, ainda tinha Franco Harris, Lynn Swann, John Stallworth… Roger Staubach, um dos maiores jogadores da história dos Cowboys, assegurou dois aneis a Dallas e esteve em seis Pro Bowls entre 1971 e 1979. Já nos Dolphins, um dos elencos mais marcantes da época, víamos Bob Griese, Larry Csonka, Paul Warfield.
Sem dúvidas, a década de 1970 da NFL ficou destacada pelos sistemas defensivos, e nada mudará isso. Todavia, a altíssima qualidade de alguns jogadores de ataque deu à liga certo equilíbrio, o necessário para que a época terminasse como uma das mais marcantes de todos os tempos.
O primeiro e único
Pelas conquistas e profissionais que estiveram envolvidos naquele time, podemos dizer que o Pittsburgh Steelers foi o elenco mais dominante dos anos 70 na NFL. Contudo, houve algo que nenhuma outra equipe conseguiu naquela década (e nem na história da liga), além do Miami Dolphins, em 1972.
Aquele time se tornou o primeiro e (até hoje) único a conquistar o Super Bowl tendo terminado a temporada regular invicto. Isso mesmo, estou falando de uma temporada perfeita, sem derrotas ou empates, apenas vitórias. Em 72, os Dolphins venceram os 14 jogos que disputaram durante o ano até chegarem nos playoffs, quando acumularam mais três triunfos, incluindo o de 14-7 contra os Redskins no Super Bowl VII – repare que, diferente do que estamos acostumados (16 jogos), naquela época a temporada regular era composta por 14 encontros a cada time. O atual formato só entrou em vigor a partir de 1978.
Apesar de Miami ter sido a única franquia a ter alcançado um ano perfeito, vale dizer que outras três vezes um time da NFL já terminou a temporada regular imbatível, mas acabou perdendo na grande decisão. Isso aconteceu em duas oportunidades com o Chicago Bears – 1934 (13 jogos) e 1942 (11 jogos) e uma com o New England Patriots, em 2007, quando a equipe acabou derrotada pelos Giants após chegar ao Super Bowl com campanha 18-0.
Fatos/curiosidades da época
- Pouco acima, foi falado de Roger Staubach e seus tempos de Dallas Cowboys. Um fato curioso sobre o ex-quarterback é que ele foi o responsável pela criação da jogada “Hail Mary”. Isso aconteceu nos playoffs de 1975 quando Staubach fez um passe de 50 jardas nos segundos finais de uma partida contra os Vikings, o lançamento foi completo e os Cowboys avançaram. Após o fim do jogo, Roger anunciou que disse “Hail Mary” após o passe. O resto disso tudo é apenas história;
- Foi nesta década, que o “Y” foi movido para o fim do campo, e não mais na goal line, e as hash marks começaram a aparecer no meio do campo também. Já na temporada de 1978, com o intuito de dificultar a vida das defesas (e facilitar a dos ataques), que a NFL permitiu que os offensive linemen abrissem suas mãos e esticassem seus braços durante os bloqueios
P. S.
— Com tais mudanças ofensivas, imediatamente, alguns treinadores perceberam que os sistemas ofensivos poderiam ser configurados de formas e estilos diferentes, rendendo mais do que era esperado. Um dos principais, foi Don Coryell, na época do San Diego Chargers. Ele aproveitou as novas regras e fundou o “Air Coryell Offense”. Muito mais que dar um novo ataque aos Chargers, Coryell serviu como exemplo para Bill Walsh, seu assistente técico na época. Em 1979, Walsh foi contratado para treinar o San Francisco 49ers e o restante da história compõe um dos capítulos mais brilhantes que a NFL já viu. Sim, a era dos ataques estava prestes a começar. —
Fontes: Wikipedia, Pro Football Hall of Fame, History.com, The Official Treasures of the NFL.
(Capítulo VII) National Football League (NFL): A década de 1980 – no site em 22/03
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