Se você é um daqueles fãs de futebol americano que começou a acompanhar a National Football League recentemente (e considere isso se você está neste mundo há aproximadamente três anos), deve estar no estágio que admira tudo que vê atrelado à liga. E isso não é errado, e não precisa se sentir culpado por isso. A NFL realmente parece ter um dom de transformar meros “jogos de futebol americano de alto nível” em grandes espetáculos. Os esportes americanos, de um modo geral, são assim. O ponto máximo de tudo isso é o Super Bowl, que nos dá uma dimensão do espetáculo que está por trás da NFL.
Porém, não pense em momento algum que a liga é perfeita. Assim como outras ligas e federações esportivas ao redor do mundo, a National Football League tem pontos a serem questionados. Muitas vezes até perguntas sem respostas. Questões incoerentes, que ultimamente têm sido grandes alvos de críticas.
Mas que pontos são esses, que nem sempre vemos falar por aí? Como eles são vistos dentro das quatro linhas e quais impactos eles podem ter a curto e longo prazo?
Antes de detalhar cada um deles queria deixar claro que em nenhum momento estou “diminuindo” a NFL. Não é nada disso. Futebol americano é meu esporte preferido, assim como a NFL é a minha liga favorita. Sem dúvidas, meus anos não seriam os mesmos se não fossem pela NFL, então considere este texto uma abordagem e análise de pontos que a liga ainda precisa corrigir. Apenas isso. Afinal, seu melhor amigo não é aquele que concorda com tudo que você faz, certo?
Here we go!
Segurança dos jogadores
Na verdade, esta é uma questão que o futebol americano tem batido de frente nos Estados Unidos nos últimos anos. Desde os times de futebol americano de high school até o nível profissional, a segurança dos jogadores é algo que tem preocupado os responsáveis por eles. Essa é uma das razões pela qual o futebol americano é o esporte preferido dos americanos em termos de popularidade, porém não é o mais praticado por eles. Desde quando um menino de dez anos decide adentrar ao mundo da bola oval, as preocupações quanto às lesões são evidentes.
Tudo isso, verdade seja dita, acontece principalmente pelos constantes estudos feitos acerca dos ex-jogadores da NFL: já foi diagnosticado que a expectativa de vida de um jogador de futebol americano que esteve sujeito a vários tackles (um linebacker, seria o melhor exemplo) não é alta. Pelo contrário. E muito disso se dá em decorrência de lesões no cérebro do próprio atleta, uma vez que as pancadas sofridas na cabeça desse são constantes. Assim sendo, desconfia-se seriamente que isso seja uma das principais causas da maioria das depressões e até mesmo dos suicídios de ex-atletas da NFL poucos anos anos terem pendurado as chuteiras.
A gravidade disso já foi reconhecida pela National Football League. Justamente por isso a política de concussões da liga têm sido tão severas. Há dez ou quinze anos, por exemplo, diversos jogadores já declararam que nunca foram avaliados quanto às pancadas sofridas na cabeça e provavelmente disputaram partidas (quem sabe até temporadas) com concussões. De um tempo pra cá, Roder Goodell, buscando solucionar esse problema, não permite que nenhum jogador com suspeita do caso entre em campo sem a autorização do médico da franquia e também da liga.
Mudando relativamente o foco do assunto, mas não saindo do âmbito das lesões, é preciso ressaltar que as próprias lesões corriqueiras da NFL são motivos de preocupação, uma vez que elas parecem estar aumentando cada vez mais. Por isso, inúmeras propostas para diminuição da pré-temporada (de quatro para dois jogos) e regras que punam severamente atletas por pancadas desnecessárias (a penalidade chamada unnecessary roughness ilustra isso) tem sido feitas para a fins de solucionar (ou amenizar) tais casos.
As punições por condutas antidesportiva
Antes de qualquer outra coisa, é preciso dizer que este fator talvez seja o calcanhar de Aquiles de Roger Goodell atualmente, uma vez que casos envolvendo jogadores da liga em problemas externos têm sido uma constante. Pela frequência dos casos, Goodell constantemente está em pauta por suas decisões gerando, consequentemente, críticas e debates sobre o assunto – a maioria desses com razão, diga-se de passagem.
Verdade seja dita, a tarefa de definir punições para os atletas não é nada fácil, já que você nunca sabe o que vem pela frente. Ou seja, qualquer punição pode ser deteriorada por algum fato que ocorrer após à ela, dependendo da gravidade desse. Em outras palavras, o fato de Goodell já ter “distribuído” dezenas de punições desde que foi nomeado comissário da liga implica que ele tenha coerência com aquelas que ainda vão ser decretadas, e a falta de interpretação em muitas dessas situações é o que mais gera críticas ao executivo da NFL.
Por exemplo, em 2009, Donte Stallworth matou um homem por atropelamento após estar dirigindo em alta velocidade e sob a influência de bebidas alcoólicas e drogas. Devido a isso, Goodell o puniu por uma temporada inteira. Paralelamente a isto, devemos nos lembrar que Josh Gordon também foi punido por um ano completo, porém por ter violado a política de substâncias ilegais da NFL (no caso dele, pelo alto uso de maconha). Em que mundo essas duas “infrações” podem ser equiparadas? Lembre-se ainda que há pouco mais de um ano Jim Irsay, proprietário do Indianapolis Colts e um dos owners mais influentes da liga, foi preso por dirigir sob o uso de drogas e recebeu diversas acusações por isso. Todas elas passaram “despercebidas” pelo comissário – lembrando que quem paga o salário desse são justamente os donos das franquias.
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Ainda mais recente, temos o caso de Ray Rice, o qual agrediu sua esposa em um elevador, e vídeos mostraram isso. Rice foi “investigado” por Roger Goodell e após algumas reuniões acabou punido por duas partidas (DUAS!). Mais tarde, quando inúmeros protestos e o próprio vídeo entraram em cena, Goodell mudou a pena para “indefinida”, tendo essa durado por mais 12 semanas.
E não para por aqui: houve o caso Spytgate envolvendo os Patriots em que Goodell suposta (e provavelmente) tenha punido o time sem ter visto as filmagens que comprovavam a penalidade; o próprio Deflategate é repleto por incoerências; quando os Saints e sua defesa violaram algumas regras Roger foi “afoito demais” na punição… Enfim, poderia estender essa lista por mais uma cinquenta linhas.
Roger Goodell aparenta tentar demonstrar grandes exemplos nos casos individuais dos jogadores. Porém, ele não mantém um “padrão” nisso, ficando perdido em várias dessas situações e completamente imprevisível quando está tratando de uma franquia como um todo.
Uso de substâncias ilegais
Já falei muito sobre isto aqui e esta é uma discussão talvez até interminável, visto que abrange questões culturais e sociais, as quais vão muito além do futebol americano. De qualquer forma, é preciso ter em mente o fato que mais tira jogadores de atividade por punições na atualidade. O uso de maconha pelos jogadores da NFL é algo que visivelmente incomoda Goodell e que deixa o comissário sem saber o que fazer, ao mesmo tempo.
Você é contra ou a favor disso? Goodell finalmente tem alguma razão aqui? Abaixo, segue um texto feito na temporada passada que engloba todos esses aspectos e instiga o debate sobre eles.
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Comemorações
Assim como no caso acima, decidi deixar o fator das comemorações (e as recorrentes punições conferidas à elas) em um item separado, visto que também é um tópico muito discutido na atualidade e que com certeza estará em pauta na temporada 2017. Nesta “minissérie”, os protagonistas, sem dúvidas, serão Roger Goodell e Odell Beckham Jr..
De um tempo pra cá, a liga começou a punir os jogadores que “exagerassem” nas comemorações. O que não estaria errado, já que exageros neste caso podem ser ruins para a imagem da organização ou alguma coisa do tipo. Entretanto, o que ninguém esperava é que essas exageros fossem estar relacionados à uma “ditadura”, digamos assim. Qualquer dancinha a mais, e Goodell elabora uma multa cobrando alguns milhares de dólares.
Não pode mais jogar a bola ao chão de qualquer jeito, não pode dar bolas aos torcedores nas arquibancadas, não pode dançar diferente, não pode correr para as laterais… De uma maneira geral, a impressão que fica é que as comemorações devem ser acompanhadas de um grito, um abraço nos companheiros e a devolução, sem movimentos bruscos, da bola para um dos árbitros.
Para os jogadores da NFL, o valor cobrado é insignificante – e não seria nenhum absurdo se as próprias franquias se responsabilizassem pelas multas. A questão aqui é a intenção de Roger Goodell em aparentemente colocar a NFL contra a maioria dos tipos de celebrações, fato que não faz sentido algum. Para esta temporada, então, após várias críticas quanto à essa política na temporada passada, o comissário da liga disse que os jogadores terão “mais espaço/liberdade para se divertir”. Será a hora de ver o quão “espaçoso” Goodell é.
Os comerciais
Se você já tentou colocar o futebol americano na vida de algum conhecido, provavelmente tenha ouvido a frase: “Futebol americano para demais”; “Futebol americano tem muitos comerciais.”. Enfim, são argumentos que nem se comparam ao que acontece dentro de campo mas, querendo ou não, atingem a reputação do esporte de alguma maneira.
Tanto que para a próxima temporada, Roger Goodell aprovou algumas mudanças que tentarão agilizar as partidas da liga, como por exemplo, resultado das revisões pela arbitragem, quando o relógio dos 40 segundos irá começar e, especialmente, duração da prorrogação. Em 2017, o overtime terá dez minutos de duração, e não 15, como estávamos habituados.
*Se algum amigo seu ainda ainda reluta em entrar para o futebol americano, por favor, mande ESTE TEXTO a ele!
Relocações dos times
Toda vez que paixão e razão se confrontam, alguma discordância irá surgir. No caso da NFL, isso acabou acontecendo com certa frequência, já que três relocações de franquias foram oficializadas em 14 meses. Para o público brasileiro, então, deve ser ainda mais difícil entender que as franquias da NFL são negócios de alguns empresários, o que significa que esses farão de tudo para estarem sempre ganhando cada vez mais com isso, uma vez que esse não é o caso dos clubes de futebol.
Desta forma, se o mercado de uma cidade, seja pelo público ou qualquer outro motivo, não agrada tanto os donos e nem empolga o próprio comissário, uma possibilidade de relocação entra em cena, eventualmente deixando para trás o sentimento de milhares de pessoas.
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“A franquia de Washington”
Desde quando o Washington Redskins foi fundado, existem críticas quando ao nome Redskins. Elas vêm de uma minoria dos torcedores da franquia e julgam como “preconceituoso e ofensivo” o termo usado como mascote da franquia de Washington. Isso porquê no passado dos EUA eram comuns os “peles vermelhas”, grupo que foi oprimido e sofreu com desigualdades na época da colonização do país.
Particularmente, até entendo o que esse pequeno grupo de pessoas argumentam (e saiba que eles não falam Redskins em hipótese alguma no seu dia a dia), porém não concordo. O termo Redskins, assim como o proprietário da franquia declarou, também tem outra conotação: ele pode fazer referência às várias características motivadoras do mascote do time – e falei mais sobre isso em outro texto (que está logo abaixo).
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